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Facebook permite e lucra com golpes que somam dezenas de milhões de visualizações – Terra

Com dezenas de milhões de visualizações, golpes de todo tipo se proliferam no Facebook, plataforma da Meta que não

Facebook permite e lucra com golpes que somam dezenas de milhões de visualizações – Terra

Com dezenas de milhões de visualizações, golpes de todo tipo se proliferam no Facebook, plataforma da Meta que não tem combatido o problema de forma eficaz e lucra com anúncios pagos para divulgar essas fraudes.
Da falsa promessa de valores a serem recebidos à promessa igualmente enganosa de dinheiro em troca de avaliação de posts, os golpes usam até mesmo a marca do Facebook — sem qualquer moderação por parte da empresa.
Mesmo golpes já noticiados seguem ativos e com o conteúdo enganoso impulsionado por meio de anúncios.
No início de agosto, o Aos Fatos identificou que o golpe mais visualizado no Facebook foi o do “Limpa Nome”, no qual perfis falsos conseguiram fazer com que 138 posts fossem visualizados mais de 30 milhões de vezes. Inicialmente, as contas enganosas difundiram um domínio, registrado no dia 2 de agosto, que imitava a identidade visual do site Serasa Limpa Nome para ludibriar usuários que buscavam quitar dívidas com bancos e lojas no varejo.
Após a publicação da reportagem, os golpistas criaram novos perfis falsos, que foram responsáveis por ao menos 94 posts e que passaram a difundir outros três domínios — registrados entre os dias 12 e 19 de agosto — para aplicar o mesmo golpe, o que segue acontecendo.
Para obter sucesso, o golpe explora vulnerabilidades socioeconômicas das vítimas, que são expostas a trechos editados de reportagens de emissoras de TV sobre programas e serviços federais ou privados. Neste caso, os golpistas usaram o nome do Desenrola Brasil — um programa federal que visa a renegociação de dívidas lançado em julho, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Feirão Limpa Nome — mutirão anual de negociação de dívidas, que neste ano aconteceu em março.
A vulnerabilidade socioeconômica das vítimas pode ser associada a outros fatores para um golpe ser bem sucedido. Fábio Fekete de Noronha, especialista em segurança digital do Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) e coordenador da Comissão de Prevenção a Fraudes da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), listou alguns desses fatores no evento de lançamento da campanha “tem cara de golpe”, na sede do Banco Central, em São Paulo.
Entre eles, estão:
Campanha. Palestrantes durante o evento de lançamento da campanha “Tem cara de golpe” na sede do Banco Central em São Paulo (Marco Faustino/Aos Fatos)
Os golpistas também fazem as vítimas terem a impressão de que estão sendo injustiçadas e as fazem acreditar que têm direito a um determinado valor retido indevidamente por bancos ou concessionária de serviços públicos.
Exemplo disso foi um golpe que prometia reaver valores de ICMS oriundos da conta de luz — impulsionado por ao menos quatro publicações e 128 anúncios em um período de 48 horas no Facebook —, além de outro que dizia restituir valores retidos pelos bancos, que poderiam ser pesquisados e devolvidos por meio de sites que fingiam ser um meio oficial de consulta. Em alguns casos, foram criadas páginas que simulavam pertencer ao Banco Central.
O método do golpe do “limpa nome” é semelhante a de outros golpes que circulam no Facebook, como o da falsa restituição de valores retidos em bancos. Em fevereiro de 2022, o Banco Central disponibilizou o SVR (Sistema de Valores a Receber), que é o único site que permite consultar gratuitamente valores “esquecidos” em contas antigas de bancos. Antes a informação constava apenas do Registrato, um sistema que desde 2014 emite relatórios sobre o relacionamento do cliente com todas as instituições financeiras.
O lançamento do SVR fez com que novos golpes surgissem. Em agosto, o Aos Fatos localizou ao menos 163 publicações no Facebook, que somadas tiveram 8,5 milhões de visualizações, e que difundiram um falso serviço denominado “consulta Brasil”.
Confira abaixo o modo de agir dos golpistas:
Etapas. No golpe ‘consulta Brasil’ a vítima é levada até um site que finge ser do governo federal, faz simulações inócuas, não consulta qualquer base de dados real, e obriga a vítima a pagar uma taxa, que não é cobrada pelo Banco Central, para a liberação de valores.
O deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator do PL 2.630/2020, o “PL das Fake News”, estuda incluir a exigência de que os usuários sejam identificados ao criarem contas em plataformas. Em entrevista ao Aos Fatos, o parlamentar afirmou que está avaliando o tema para o novo parecer que irá apresentar, o que não ocorreu até o momento.
Além disso, os termos utilizados pelas publicações para atrair potenciais vítimas são praticamente os mesmos e contam com pequenas variações.
O Aos Fatos listou os principais termos utilizados para este golpe:
Em alguns casos, os esquemas fraudulentos usam o próprio nome da Meta ou das plataformas que pertencem à empresa para enganar as vítimas. É o caso do “Facebook safespace” — golpe que acumulou o maior número de anúncios dentro da plataforma em agosto, segundo levantamento do Aos Fatos.
Os golpistas, em tom de incredulidade, dizem que o Facebook atualizou a plataforma e lançou um recurso chamado “safespace” (espaço seguro, em português), que remuneraria usuários caso avaliassem anúncios na plataforma, o que é falso.
Insegurança. Golpistas utilizam o próprio nome do Facebook para aplicar golpes dentro da plataforma, a exemplo do ‘Facebook safespace’
Entre 27 de julho e 4 de agosto foram inseridos mais de 300 anúncios para promover o golpe, de acordo com levantamento do Aos Fatos. Já no dia 7 de agosto foram contabilizados mais de 1.000 anúncios e 140 publicações enganosas, que tinham sido visualizadas mais de 5 milhões de vezes. No dia 10, o número de publicações aumentou para 200 e o número de anúncios permaneceu no mesmo patamar.
E o golpe continua sendo aplicado.
Na manhã de quarta-feira (30) havia 580 anúncios ativos desde 11 de agosto, segundo dados da biblioteca de anúncios da plataforma.
Não foi possível estimar o número exato de anúncios nem o alcance. A biblioteca de anúncios do Facebook não oferece a transparência necessária para obter essas informações. Também há inconsistências na plataforma, que fazem com que o número de anúncios varie ainda que a pesquisa seja feita com alguns segundos de diferença. O Aos Fatos não localizou qualquer alerta oficial do Facebook sobre as fraudes.
Em junho, o Aos Fatos revelou o golpe do “selo verificado”, no qual golpistas enganavam usuários que buscavam obter selos de verificação no Facebook e no Instagram, a partir de uma estrutura que incluía perfis falsos, posts patrocinados e páginas que imitavam a identidade visual da Meta. Na época, foram inseridos na plataforma ao menos 137 anúncios para promover a fraude.
As promessas de remuneração a partir de curtidas e avaliação de roupas, marcas e produtos de plataformas de comércio eletrônico, a exemplo da Shein, também são golpes que, embora denunciados na imprensa, seguem circulando no Facebook.
Em agosto, por exemplo, dois golpes desse tipo somaram 56 publicações na plataforma e foram visualizados mais de 200 mil vezes:
Outro lado. A Meta afirmou ao Aos Fatos que não permite quaisquer atividades que violem os padrões da comunidade ou publicidade, como atividades fraudulentas que tenham como objetivo enganar, deturpar, cometer fraude ou explorar terceiros. A empresa confirmou também que não lançou uma ferramenta que permita usuários avaliarem anúncios em troca de dinheiro.
A Meta recomendou que os conteúdos enganosos fossem denunciados pelos usuários. Exemplos de posts e anúncios de golpes foram encaminhados para a empresa pelo Aos Fatos, mas seguiam no ar na tarde desta terça-feira (5).
Referências:
1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
2. Serasa (1 e 2)
3. Governo federal
4. Febraban
5. Banco Central do Brasil
6. Facebook
7. Olhar Digital
8. UOL
9. Canal Tech
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