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“Carta de amor aos anúncios publicitários”, por Vera Dias António | Médio Tejo – Médio Tejo

Médio Tejo Uma região, um jornal A ainda mais extensa panóplia de anúncios publicitários que nos assaltam (alguns literalmente)

“Carta de amor aos anúncios publicitários”, por Vera Dias António | Médio Tejo – Médio Tejo

Médio Tejo
Uma região, um jornal
A ainda mais extensa panóplia de anúncios publicitários que nos assaltam (alguns literalmente) nesta altura do ano fez-me pensar que há algumas campanhas publicitárias tão boas que ficamos com aquela frase, aquele slogan, aquela jingle para o resto da vida.
E quando digo ficamos, pode ser um grupo de pessoas que se identificam com a mensagem ou mesmo o país inteiro. Tenho ideia que o primeiro que me ficou, até hoje, foi o jingle “é boca doce é bom, é bom, é…”. Lembram-se? E havia outro, tinha um comboio com chocolates e a frase era algo como “o coelhinho vai com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo…” Bolas, isto já vai há muitos anos…
Tem mais de um século, mas quem não se lembra do slogan “o que é Nacional é bom”?! A marca Nacional já teria tudo a ganhar com um nome que nos representa e com o qual nos identificamos e aproveitou-o ao conseguir, numa frase pequena, ligar-se à mente de cada um de nós e simplesmente ficou, como um slogan de todos. Já referi que tem mais de 100 anos?! Espetacular!
Ainda há pouco tempo ouvi, e eu perco-me nos anos, mas a campanha terá mais de quinze anos, mas dizia eu que ainda há pouco ouvi o “tou xim? É p’ra mim!”. E na cabeça soam-nos as ovelhas a responder: “mééééeée”. Nem é preciso dizê-lo. Reproduz-se automaticamente.
Ficou-nos também, penso que do Turismo de Portugal, a famosa frase “vá para fora cá dentro”. Tão boa! E toda a gente a usa, já repararam?!
Há algumas campanhas que acabam por se desmarcar dos produtos, sobrevivem-lhes, ficam na boca do mundo e nem nos lembramos do produto que representam.
Durante muito tempo o “fala a Marta” entrou-nos em casa e, a bem da verdade, quem nunca foi cumprimentado num telefonema com um “fala a Marta”. Associado à simpática rapariga. Tenho ideia que terá sido substituída e a coisa já não pegou, antes pelo contrário.
Há, sim, rostos que se colam à mensagem. O “Ambrósio, apetece-me algo” tem os mesmos rostos há dezenas de anos. Um feito. Podem usar a mesma publicidade ano após ano que, além de não cansar, lembra-nos que está na época dos bombons. E que barato que lhes deve ficar.
Além dos rostos e da frase tem que haver uma ligação que explique como frases tão simples, ou estranhas, nos fiquem na cabeça, como o “Sobral de Monte Agraço já tem um parque infantil”. A marca julgo que era de um detergente, mas a imagem de Vítor de Sousa ficou, tal como a frase que não nos diz nada sobre o produto e que vai lá saber-se porquê andou por aí vários anos. Pessoa era um génio, já o sabemos, e percebeu que realmente o estranho depois entranha.
A campanha certa, com a frase certa, na altura certa fica-nos nos ouvido, no gosto, no saber. E mais, liga-nos! Exceto quando a minha filha acorda às seis e meia da manhã, ligo a TV e desata a pedir-me incessantemente uma boneca para fazer maquilhagem… Aí desligo….
Esta semana ia de carro, estava atrasada, comecei a acelerar, mas lembrei-me da frase “mais vale perder um minuto na vida, do que a vida num minuto” que associo, obviamente, a uma campanha de prevenção rodoviária. Desacelerei. A par desta havia a famosa “se conduzir, não beba”.
Também o verão e os perigos do mar nos trouxeram há alguns anos o “há mar e mar, há ir e voltar”. São mesmo campanhas que nos ficam, não é?! Esta última tem a particularidade de ter sido feita pelo poeta Alexandre O’Neill. Quem diria, não é?
Mais interessante ainda, se querem saber, é ter lido que nos anos 20 – há 100 anos atrás – a Coca-Cola preparou a campanha “primeiro estranha-se, depois entranha-se” para entrar em Portugal, mas acabou por só conseguir ser posta à venda 50 anos depois. Já a frase (quase um provérbio popular) ficou nas bocas do mundo, ainda antes do produto. E feita por quem? Por Fernando Pessoa, o próprio.
Não torço o nariz a uma campanha publicitária. Especialmente se me tocar, se me fizer ligar não só ao produto, mas, acima de tudo, que me dê um sentido de pertença a algo bom, ou engraçado. É por isso que não salto os espaços publicitários no intervalo de um programa. Porque muitos são boas histórias e vou dizer-vos que há os que até me comovem, mais quando estou grávida, mas mesmo sem estar. Uma lamechice.
Se é certo que alguma publicidade pode ser enganosa, lembram-se do que é que não engana? Claro, o algodão. Impossível esquecer!
Fiz uma pesquisa em casa. Os meus filhos destacaram o jingle “ou-ça-tu-do-com-mi-ni-som” ou o “memofante, memória de elefante”… (o que me ri). Já o Rui lembra-se, quando chegou a Portugal, do “Get uppa…”. Lembram-se? Final dos anos 90, início de 2000. Um rapaz à porta de uma estação de serviço que via passar um carro tão depressa que só lhe ficava o “get uppa….”. Era um veloz Clio, onde um grupo de rapazes ouvia o “Get Up Offa That Thing”, do James Brown. Quantas vezes ouvimos e dissemos “Get uppaaaaa”?!
Há atrás das campanhas e das marcas alguém que escreve as frases, que tem as ideias. Uma equipa, uma pessoa. Normalmente anónima. Aposto que deve dar um imenso gozo perceber, onde quer que seja, que estão a usar algo que criámos.
A concluir este meu passeio pelas memórias publicitárias tenho que destacar a melhor campanha, para mim, este ano e nesta época, que tem sempre mensagens tão bonitas. Que é também o repto que deixo, fazendo da campanha da Bertrand, a minha:
“Este Natal vai ser diferente para que volte a ser igual.”
Um Natal de Paz, sossegado!
Nasceu em Mação em 1978. Estudou em Abrantes, Lisboa, Bruxelas e voltou a Mação. Licenciada em Sociologia, trabalhou sempre na área da Comunicação, primeiro a social, depois a autárquica.
Resgatar memórias e dar-lhes uma quase eternidade é o seu exercício preferido. Considera que a recolha de memórias passadas das gentes de Mação e o apoio na construção das memórias futuras dos quatro filhos é a melhor definição de equilíbrio, o presente da vida. Acredita, acima de tudo, que nada sabemos de ninguém até ter uma boa, mas mesmo boa, conversa. Porque o que parece, às vezes, não é.
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