Drex, o real digital, vai mudar a forma como você investe. Saiba como – Educação Financeira – Estadão E-Investidor – As principais notícias do mercado financeiro – E-Investidor
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Imagine trocar uma ação da Vale (VALE3) por uma da Petrobras (PETR4) em questão de segundos. Isso pode ser possível em um futuro próximo com a moeda digital Drex que está sendo desenvolvida pelo Banco Central (BC). O nome vem da sigla Digital, Real, Eletrônico e Exchange (Transação) e, ao final de 2024, estará disponível para a população, segundo a previsão da própria autoridade monetária.
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“Na prática, quando estiver liberado, o real vai poder ser convertido para o Drex. O acesso a esse Drex vai ocorrer por meio de carteiras virtuais que as instituições participantes do sistema, como bancos e fintechs, vão disponibilizar. Então o cliente vai depositar o dinheiro em real nessa carteira virtual e esse montante será convertido para o formato Drex”, afirma Bruno Diniz, fundador da consultoria Spiralem e especialista em cripto.
Com o Drex na carteira digital, será possível comprar ativos tokenizados. Como explica Vinícius Bazan, analista de criptoativos da Empiricus Research, tokenizar significa selecionar um ativo, seja ele físico, como ouro, ou não físico, como um título do tesouro, e fazer uma emissão de “frações” deste ativo em formato digital que podem ser transacionados entre pessoas e instituições. Tais frações são os tokens e cada um deles representa uma parte do total do ativo.
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Assim, em breve, será possível negociar com Drex títulos públicos, ações, precatórios, debêntures e outros produtos financeiros tokenizados.
O Drex entra nessa história para alinhar a tecnologia dos ativos tokenizados com os agentes que os negociam. “Funcionará como uma tokenização das duas pontas da operação, traz tudo para o mesmo tipo de tecnologia”, diz.
A tecnologia que Bazan se refere recebe o nome de blockchain, uma rede que registra todas as transações realizadas com tokens. Nela, como tudo se encontra registrado na mesma linguagem, a compra e venda de ativos fica simples, rápida e segura.
“Se hoje eu tenho ação da Petrobras e quero vender para comprar Vale, eu tenho que fazer uma ordem de venda de Petrobras, coletar os reais, e aí fazer uma ordem de compra para Vale. Hoje, no mercado de cripto, já há possibilidade de fazer a troca de um ativo pelo outro. É como se eu tivesse trocando Petro por Vale direto, sem passar por essa ida e volta”, ilustra Bazan.
O Drex é categorizado como uma Central Bank Digital Currency, na sigla em inglês, ou, em tradução livre, uma Moeda Digital do Banco Central, denominada pela sigla CBDC, que nada mais é do que uma representação eletrônica da moeda emitida por um banco central. No caso do Brasil, o Drex será a versão digital do real, ou seja, será lastreado na moeda corrente na proporção 1:1 – ambos apresentam a mesma paridade.
Para existir, o Drex usa a tecnologia blockchain, a mesma que permitiu a criação das criptomoedas. Contudo, apesar de ser construída sob a mesma tecnologia, as CBDCs se diferem das criptos.
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De acordo com Bruno Diniz, ativos como o bitcoin (BTC) ou o ethereum (ETH) existem dentro de redes blockchain (e existem diversas redes que servem de plataforma para variados criptoativos por aí) que são descentralizadas, sem um órgão central controlando todas as transações, como ocorre com os sistemas financeiros tradicionais. “São diversas pessoas que se juntam em uma rede e colaboram para que as validações das transações aconteçam”, afirma.
O Drex, no caso, consiste em uma rede fechada, em que há a necessidade de permissão para participar dela. Dentro dessa rede fechada, quem fará o papel dos validadores das transações serão instituições reguladas, como bancos ou empresas de pagamentos. Atualmente, no projeto piloto, participam oito consórcios, sendo o maior dele o da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).
Na sexta-feira (18), a ABBC anunciou que agora fazem parte do seu time 13 agentes: Banco Ribeirão Preto (BRP), líder do consórcio, ABC Brasil, BMG, BOCOM BBM, BBC, Banrisul, BS2, Pan, Conglomerado Original e PagBank. Além dessas instituições financeiras, o consórcio conta com as empresas BBChain, Microsoft e BIP.
Os especialistas explicam que ainda é recente para falar como o ecossistema de investimento com Drex vai funcionar por completo. Contudo, Diniz ilustra que o Banco Central já adiantou que a compra e venda de títulos públicos federais com Drex são os primeiros investimentos que serão testados no projeto piloto.
Para essa troca ocorrer, o especialista explica que os títulos públicos serão tokenizados, ou seja, haverá uma representação digital deles na mesma rede blockchain e linguagem do Drex. Quando estiver disponível ao público, esses ativos poderão ser negociados diretamente por quem possuir o real digital.
“Hoje em dia, para um investidor comprar um título público ele precisa abrir uma conta em uma corretora. Com essa corretora, o investidor fala que quer comprar R$ 100 em títulos. Ela emite a ordem e compra o título para o investidor. Agora, veja a diferença para um título tokenizado: eu posso estar em um churrasco e querer comprar de um investidor que tem esses títulos. A gente gera, por exemplo, um QR Code, e a propriedade desses títulos já vai para mim, enquanto a outra parte fica com o equivalente em Drex que eu paguei”, explica André Perfeito, economista.
A compra de bens também será possível nesse novo sistema, por meio de contratos inteligentes – ou, no termo utilizado em inglês, smart contracts – definidos nas regras das redes blockchain. “Os contratos inteligentes funcionam assim: você tem um carro, eu quero comprar seu carro. A titularidade só vai passar para mim quando eu tiver concluído diversos registros, e os contratos inteligentes vão assegurar que todos eles foram cumpridos”, explica. “Faltava o real digital para ‘conversar’ com tudo isso. Na minha visão, é uma revolução”, salienta Perfeito.
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Diniz conta que enxerga atualmente um processo de tokenização da economia, como está explicado nesta reportagem. “Uma vez que diversos ativos estiverem na forma de tokens, o jeito de entrar nesse mundo e jogar o mesmo jogo ocorre por meio da conversão do real em Drex. Dessa forma, a troca dele por outros tokens fica muito mais fácil”, diz, destacando também vê muitas vantagens na moeda digital.
A população até desconhece, mas, hoje, quando um investidor compra um Certificado de Depósito Bancário (CDB), há um custo da operação. Um CDB que oferece 13% de rendimento ao investidor anteriormente foi adquirido pelo banco com um retorno de 14% – os números deste exemplo são hipotéticos. Na medida que esses ativos forem tokenizados haverá a redução de custos, já que diversos agentes intermediários não serão mais necessários. Sendo assim, o banco poderá ofertar investimentos melhores.
Além disso, como explica Perfeito, a tokenização terá como reflexo uma maior competitividade, o que também pode beneficiar o investidor. “O Drex permite um nível maior de competição. Hoje, tudo é negociado na plataforma dele, daqui um tempo, pode ser que surjam novas plataformas para negociar que não seja a B3. Porque se a sua ação está tokenizada, você pode fazer isso com quem quiser”, conta.
Bazan também compactua com a visão de que o Drex trará competitividade para o mercado, o que será benéfico para os investidores. Segundo ele, não basta tokenizar um ativo ou bem, como um precatório em seu exemplo, já que o ativo ainda estaria sob a custódia de uma única entidade e os investidores só podem comprar daquela instituição através do real.
“Para você acessar esse precatório, o investidor depende do emissor daquele precatório e da plataforma, não é uma coisa ampla. O Drex vai ser um dinheiro que qualquer instituição financeira vai poder usar. A diferença é que eu estou ampliando esse mercado, para que não seja nichado em um player que está fazendo essa tokenização”, pontua.
Somado a possíveis maiores rentabilidades e competitividade, os especialistas citam a compra de ativos internacionais como outra vantagem do Drex. Isso porque será possível trocar CDBCs, o que torna o processo menos burocrático e mais acessível. “Eu fico pensando na integração do mercado brasileiro de investimentos com o mercado financeiro americano. Isso está mais para um sonho, mas é um dos caminhos que se abrem com o desenvolvimento de uma tecnologia igual a do Drex”, finaliza Bazan.
Sabe aquele dinheiro que rende quanto está parado na conta bancária? Isso ocorre porque os bancos podem emprestar os valores depositados para outras pessoas, empresas ou organizações que solicitam empréstimos. Assim, quem depositou ganha um rendimento, já que quem pegou o dinheiro emprestado o devolve com juros – e assim o banco ganha parte dos juros. Contudo, com o Drex, isso não vai acontecer.
“Quando o dinheiro estiver no formato Drex, não será permitido que as instituições financeiras emprestem os depósitos a terceiros, como acontece com o real tradicional. Consequentemente, o Drex não terá rendimento automático”, diz. “A conta que tem rendimento automático – como os anúncios de que ‘a conta depósito da fintech tal paga uma porcentagem do CDI’ – só existe porque o dinheiro dela está sendo emprestado na outra ponta”, explica Diniz, pontuando que por isso não faz sentido manter o Drex parado sem um destino objetivo, como compras ou investimentos.
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