A potência revolucionária do real digital no sistema financeiro brasileiro – Época NEGÓCIOS
Por Fernando Carvalho* 30/09/2023 06h01 Atualizado 30/09/2023 Desde 2021, quando se iniciaram as discussões sobre o real digital, a
Por Fernando Carvalho*
Desde 2021, quando se iniciaram as discussões sobre o real digital, a iniciativa de uma moeda digital brasileira incandesceu o mercado financeiro, principalmente no que tange aos seus usos e contribuições para um mercado ainda altamente analógico. É importante destacar que, embora muito evidente para os profissionais da área, pode gerar dúvidas à população em geral o impacto nas transações financeiras do cotidiano.
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O real digital não se trata de uma solução de micropagamentos, como é o PIX, e sua implementação inicial não mudará o nosso dia a dia como consumidores. A verdadeira potência revolucionária dessa empreitada nacional reside no uso da tecnologia blockchain dentro da infraestrutura do mercado financeiro e de capitais brasileiro, com um impacto direto na infraestrutura atual desses mercados que, apesar dos avanços da digitalização e da internet, evoluiu de forma limitada nos últimos anos.
O real digital representa uma camada de liquidação de ativos mais moderna, permitindo acomodar emissões no futuro e possibilitando a emergência de um ecossistema de serviços e ativos tokenizados que se conectará a ele, tornando o mercado mais eficiente e reduzindo os custos operacionais.
Um exemplo concreto desse avanço é a transação de ativos como debêntures, que, atualmente, passa por um processo manual de liquidação entre o emissor e o investidor por meio do sistema bancário tradicional. Com o real digital, essa relação poderá ser automatizada por meio de contratos inteligentes (os “smart contracts”), reduzindo intermediários, processos burocráticos e a necessidade de grandes estruturas internas nos participantes da emissão. A velocidade, eficiência e otimização de recursos são benefícios diretos dessa abordagem.
Embora possam surgir questionamentos sobre o impacto do real digital em comparação com outras moedas digitais, como o bitcoin, conhecidas como tokens utilitários (os “utility tokens”), é importante ressaltar que o real digital possui uma função distinta e não substituta. Pelo contrário, tornará a infraestrutura do mercado mais apta a trabalhar com diferentes ativos digitais, de forma regulada e segura. Isso abre perspectivas promissoras para todos os agentes do mercado financeiro.
Quanto à segurança jurídica e à transparência, o Banco Central tem se preocupado com isso e, não por acaso, selecionou instituições financeiras tradicionais para participar do piloto do projeto. Embora as soluções tecnológicas escolhidas pelas instituições ainda sejam desconhecidas, o ambiente de teste proporciona a oportunidade de experimentação sob o olhar atento do regulador. A perspectiva é promissora e o Brasil está trilhando um caminho pioneiro no cenário global rumo ao futuro digital das finanças.
*Fernando Carvalho é CEO e cofundador da Vórtx QR Tokenizadora. Formado em Administração de Empresas (UFRJ) com MBA em Business/Commerce (Universidade de Pittsburgh, EUA), é um gestor com mais de 23 anos de carreira.
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