Mercado da tecnologia: ação, reação e grandes números – Gazeta do Povo
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“Juiz condena Uber a contratar todos os motoristas e pagar multa de R$1 bilhão”. Essa foi uma notícia muito comentada na semana passada, ainda mais quando a empresa respondeu que não iria cumprir a decisão.
Lembro bem, em 2014 quando o Uber entrou no país. Muitos setores ficaram apavorados, legisladores discutiam e argumentavam sobre como autorizar o funcionamento dessa nova plataforma nas cidades, mas quem decidiu mesmo foi o consumidor. Nos anos de 2016 e 2017, o consumidor aderiu ao produto e induziu a mudança de todo um mercado.
Além da democratização da tecnologia de pedir carro por aplicativo, o Uber se tornou fonte de receita familiar. São mais de 700 mil motoristas cadastrados na plataforma que, quando perguntados sobre os benefícios de trabalhar como motoristas de aplicativo, respondem que a autonomia e a flexibilidade são valores essenciais para a decisão.
Se aprofundarmos um pouco mais sobre a ação e reação do surgimento de um serviço como o Uber, podemos pensar sobre o mercado de locação de veículos, para dar apenas um exemplo. Ele se adequou e encontrou um novo nicho para atender a necessidade dos motoristas por carros em bom estado exigido pela empresa. Segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Veículos, 230 mil veículos estão alugados para motoristas de aplicativo hoje.
Sem querer polemizar a discussão sobre as questões jurídicas que envolvem a decisão do Ministério Público do Trabalho. No entanto, muitas vezes, é o consumidor ou usuário quem decide sobre a adoção de novos produtos e serviços – e não há como retroceder.
Em 2011, quando o Airbnb iniciou sua operação no Brasil, a rede hoteleira e o trade do turismo também protestaram. Ainda hoje há ações para tentar conter o avanço da plataforma de aluguéis por temporada. Mas como conter os 4 milhões de anfitriões que já receberam mais de 1,5 bilhão de hóspedes em quase todos os países do mundo? O Airbnb vale cerca de US$ 94 bilhões. Somente no segundo trimestre de 2023, foram mais de 115 milhões de reservas que geraram uma receita de US$ 2,5 bi.
Essa empresa certamente mudou significativamente o mercado do turismo, assim como as plataformas de reserva online, como o Booking que, entre abril e junho de 2023, registrou 268 milhões de reservas, movimentando US$ 39 bi. Acelerada pela retomada pós-pandemia, pelas mudanças tecnológicas e pelas novas tendências de consumo, o Booking está caminhando para se tornar a principal agência de viagens online do mundo.
A transformação digital é o ponto que conecta as histórias das empresas que citei até aqui. Novos produtos e serviços surgem e, com eles, novos comportamentos – juntos, eles mudam mercados e giram a economia.
É claro que discussões jurídicas e de regulações precisam acontecer. Afinal, as cifras do mercado da tecnologia são assombrosas. Analistas de mercado avaliam que somente a inteligência artificial (IA) tem um mercado potencial de US$ 10 trilhões.
Na semana passada, por exemplo, houve uma reunião no senado americano para discutir aspectos do avanço da inteligência artificial. Entre os debatedores convidados, estavam nada menos que Bill Gates (fundador da Microsoft), Mark Zuckerberg (CEO da Meta/Facebook), Elon Musk (CEO da Tesla), Sam Altman (CEO da OpenIA, dona do Chat GPT) e Sundar Pichai (CEO do Google). A maioria dos executivos é favorável e considera urgente a regulamentação da IA nos EUA.
Todas essas empresas possuem produtos que usam a inteligência artificial e vêm investindo fortemente na sua implementação. O Dojo, supercomputador da Tesla, está sendo considerado uma mudança de patamar para a aplicação de IA e será o responsável pela direção dos veículos autônomos da empresa. A Microsoft, que lançou o ChatGPT, tem turbinado suas aplicações com IA por meio da parceria com a Nvidia. O Facebook/Meta construindo soluções baseadas no ChatGPT. Google, com o Gemini, da mesma forma.
As consequências do uso errado da inteligência artificial são severas. Mas é fundamental entender, ouvir os vários lados, perceber que existem mudanças estruturantes provocadas pela tecnologia e para muitas delas não há caminho de volta. Como equalizar as ações e reações desse mundo cada vez mais tecnológico?
Por outro lado, há muita oportunidade que o uso positivo da IA pode trazer para sociedade, isso é inquestionável. E já que este artigo está cheio de exemplos, seguem mais alguns: a inteligência artificial ajuda a capacitar equipes em empresas e está moldando o futuro dos recursos humanos; ela está fornecendo soluções agrícolas tecnológicas para colheita, cultivo, fertilização e controle de pragas no agronegócio; ela ainda auxilia no diagnóstico de doenças cardíacas e salva vidas na área da saúde. Ajuda equipes de resgate a encontrar corpos de vítimas de deslizamentos.
Olha quantas discussões surgem a partir de uma notícia? Neste mundo em movimento, é importante enxergar além. Enxergar sob vários ângulos, ouvindo lados diferentes e que a gente pratique a “repercepção” todos os dias. Bora lá?
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