A inteligência artificial e os riscos nas relações internacionais – jornal.usp.br
Em relação às guerras, a IA pode trazer o desenvolvimento de algum código ético comum entre os diversos países;
Em relação às guerras, a IA pode trazer o desenvolvimento de algum código ético comum entre os diversos países; quanto mais digital é uma sociedade, mais risco ela tem de sofrer os efeitos de um ataque cibernético
Nós vivemos numa era de transformação tecnológica e a inteligência artificial ganha uma importância particular no momento que atravessamos. Recentemente, programas de computador sem instruções humanas foram capazes de se tornar praticamente invencíveis, vencendo jogadores humanos. Além disso, outros programas foram capazes de detectar moléculas até então não descobertas pelos cientistas. Outros programas ainda são capazes de elaborar textos escritos com qualidades semelhantes ou superiores àqueles elaborados por pessoas com educação universitária. A inteligência artificial, portanto, tem uma influência verdadeiramente modificadora dos nossos comportamentos e dos nossos hábitos.
No campo das relações internacionais, há grande risco gerado pela inteligência artificial. Como ela é basicamente o uso de máquinas com capacidade de aprender, isso significa que é possível pensar numa utilização em larga escala da inteligência artificial em conflitos armados de enormes proporções com efeitos catastróficos. Na realidade, o uso de máquinas na guerra moderna tornou-se muito mais intenso a partir do final do século 19, a partir da guerra franco-prussiana e da Primeira Guerra Mundial.
Nas guerras, a IA pode trazer uma nova perspectiva no campo bélico e nas relações internacionais, porque ela pode ao mesmo tempo coletar informações, disseminar informações falsas e acarretar danos aos oponentes tão graves como aqueles provocados pelas armas nucleares. Além disso, a IA opera a partir de computadores e não são identificáveis como são as armas nucleares. Logo, os riscos para as relações internacionais são imensos.
Nós nos encontramos, portanto, diante de perspectivas que ameaçam ser aterradoras, como, por exemplo, uma guerra em larga escala entre Estados Unidos e China com o uso de inteligência artificial avançada, por isso alguns cuidados devem ser tomados com empregos na inteligência artificial no momento em que seu avanço parece inexorável. O primeiro deles é o desenvolvimento de algum código ético comum entre os diversos países – quanto mais digital é uma sociedade, mais risco ela tem de sofrer os efeitos de um ataque cibernético. Além disso, é extremamente importante que as decisões a respeito do uso da inteligência artificial sejam, em última análise, tomadas por seres humanos.
É preciso ainda ampliar o tempo para a tomada de decisão no caso do emprego da inteligência artificial, tempo esse que pode ser extremamente valioso para a diplomacia internacional e para evitar que um conflito em larga escala ocorra. Finalmente, um vocabulário comum entre os países, entre aqueles que mais desenvolvem inteligência artificial. Hoje, a IA não tem um controle concentrado. Ela é tanto utilizada pelos governos quanto por empresas privadas, o que torna muito mais arriscada a sua utilização no caso de conflitos armados. Nós estamos, portanto, diante de uma situação nova que nos desafia e propõe novas questões para a reflexão daqueles que pensam as relações internacionais e para os diplomatas e governantes.
Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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Por Gustavo Xavier, jornalista e produtor musical da Rádio USP
Por Angélica Pinheiro, pesquisadora convidada do Grupo Interdisciplinar de Sistemas Alimentares do Saúde Planetária Brasil do Instituto de Estudos Avançados da USP, e outros autores*
Por Carlos A. Navas, professor do Instituto de Biociências da USP, Shigeru Miyagawa, professor do Massachussets Institute of Technology, e Vitor Nóbrega, pós-doutorando no Instituto de Biociências da USP