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Anúncios pagos no Facebook e Instagram chamam para atos golpistas e mentem sobre eleições – Agência Pública

28 de setembro de 2023 | Por Anna Beatriz Anjos 25 de setembro de 2023 | Por Jullia Gouveia,

Anúncios pagos no Facebook e Instagram chamam para atos golpistas e mentem sobre eleições – Agência Pública




O projeto Sentinela Eleitoral é uma aliança entre jornalistas e acadêmicos para investigar as campanhas de manipulação do debate público e a desinformação online nas eleições de 2022, com especial foco naquelas que ameaçam a estabilidade democrática.
Em parceria com o pesquisador David Nemer e o Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, o projeto vai trazer ao público informações exclusivas e análises que geralmente ficam restritas à academia,  lançando luz sobre narrativas inautênticas, seus atores e seu financiamento. Entenda mais sobre os conceitos e metodologias usadas pela equipe aqui. E leia o glossário de termos relevantes aqui.
Além dos conteúdos publicados neste site – e que podem ser reproduzidos livremente seguindo as regras de republicação da Agência Pública – o projeto trará toda segunda-feira uma newsletter exclusiva que vai analisar eventos e estratégias para enfraquecer a democracia no Brasil e no Mundo. Assine aqui a newsletter. 
Coordenação e edição: 
Natalia Viana
Idealização e curadoria acadêmica: 
David Nemer
Edição: 
Bruno Fonseca   
Mariama Correia
Paula Bianchi 
Reportagem: 
Laura Scofield
Matheus Santino
Alice Maciel 
Nathallia Fonseca
Parceiros Acadêmicos: 
Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard
Media Lab da Universidade da Virgínia
Parceiros de Tecnologia:
Trint e 7c0
Veículos parceiros:

Existem sete tipos de “fake news” rodando nas redes sociais. Alguns deles são meros enganos, ou informações retiradas do contexto. Esses não são nosso foco. 
Para o Sentinela, interessam aqueles conteúdos fabricados ou disseminados deliberadamente com a intenção de manipular o debate público, de maneira coordenada e não orgânica. Essas campanhas são realizadas por agentes que podem receber recompensas financeiras ou outros tipos de recompensa, como visibilidade, likes ou possibilidade de monetização dos seus canais. Chamamos esse tipo de fake news de “desinformação”. 
Campanhas de desinformação seguem um ciclo de vida. Segundo a equipe do Technology and Social Change project (TaSC) da Universidade de Harvard, são cinco estágios: o planejamento ou origem, que inclui a criação de narrativas, imagens, vídeos e outros materiais para serem divulgados online; a disseminação da campanha em variadas plataformas; as respostas e o engajamento de influenciadores, ativistas, políticos e jornalistas;  a mitigação, que pode ser feita pelas plataformas de redes sociais, veículos de comunicação ou organizações da sociedade civil ou órgãos públicos; e as adaptações dos atores desinformantes às respostas e à mitigação.    
Existem vários métodos para documentar e analisar essas campanhas de manipulação: estudos de caso, pesquisas qualitativa e quantitativas, mapeamento de redes, rastreamento de processos e estudos etnográficos. Outras fontes incluem relatórios sobre ameaças, bibliotecas de anúncios e outros documentos comerciais, pesquisas acadêmicas, declarações públicas de atores relevantes, prints de mídias e textos. 
Como metodologia de apuração, mantemos uma base de dados atualizada que monitora  250 grupos em aplicativos de mensagem e centenas de perfis em diferentes redes sociais. Nossa equipe faz o acompanhamento diário das interações nas redes sociais e parte desses dados para fazer levantamentos quantitativos e qualitativos sobre a produção de narrativas.
Muitas vezes, uma “onda” de desinformação é apenas o começo para uma investigação jornalística. A partir daí, buscamos identificar atores envolvidos, repercussões da desinformação no mundo offline, como em atos governamentais, por exemplo, esquemas de financiamento ou apoio que envolvam empresas ou grupos de lobby, além de documentos, entrevistas e outros tipos de registros que ajudem a entender como funciona cada campanha de desinformação. Também utilizamos nas investigações dados da circulação das mensagens nas redes, extraídos a partir de raspagem de dados de hashtags, de perfis e de termos para respaldar as reportagens.
Descrever a circulação de conteúdos desinformativos, dos atores envolvidos e das suas estratégias nas plataformas é uma ferramenta metodológica já utilizada em pesquisas de redes digitais, e que será utilizada neste projeto. Teorias como a Ator-Rede e técnicas como a análise de controvérsias são referências para entender, dentre outros aspectos, como esse conjunto de perfis, plataformas, algoritmos e contextos sociais e políticos transformam e constroem fatos sociais e disputas de significado.
Nos textos escritos no Sentinela, encorajamos os nossos autores a buscarem referências e estudos publicados nos assuntos para auxiliar no entendimento dos seus achados e dados.
Campanhas de desinformação atendem à estratégia definida pela equipe do TASC como “turvar as águas” (‘muddy the waters’, em inglês). 
O termo se refere à criação de um ambiente informático confuso e desorientador, no qual é difícil para um cidadão comum separar o que é verdade do que é mentira. Isso acontece quando há uma proliferação de fontes desinformacionais competindo com fontes que relatam fatos, como jornais, sites independentes, a comunidade acadêmica.   
A tática é mais relevante em momentos de instabilidade política fabricada para ganho pessoal. Um dos maiores exemplos de ‘turvar as águas’ na política recente foi a campanha de Donald Trump para reverter a sua derrota nas eleições americanas de 2020 – alegando ‘fraude’ – o que levou à invasão do Capitólio por uma turba armada em 6 de janeiro de 2021. 
É assim que uma campanha de desinformação pode levar a ações concretas, na vida real. Nosso objetivo com o Sentinela é investigar, documentar e denunciar estratégias que pretendem desestabilizar as eleições brasileiras.  
Glossário Sentinela
Assédio online: Campanha orquestrada de ataques verbais violentos, ameaças, assédio sexual  ou destruição de reputação de um ou mais alvos. 
Caixa Dois: Pagamento de custos de uma campanha política online feitos “por debaixo do pano”, não registrada junto à Justiça Eleitoral; pode ser feito via oferta de serviços ou bens e não apenas pagamento em dinheiro.
Checagem de fatos (fact-checking): Apuração jornalística que confronta narrativas, memes ou declarações com dados, pesquisas e registros para verificar se uma afirmação, história, meme ou vídeo é verdadeira.
Comportamento inautêntico:  comportamento proveniente de contas que tentam fazer seus conteúdos parecerem mais populares ou ativos do que são. Geralmente agem de forma coordenada, para tentar influenciar artificialmente as conversas por meio do uso de várias contas, contas falsas, automação e/ou scripts.
Conta automatizada: O mesmo que ‘robô’.
Conta hiper-partidária: contas dedicadas a promover políticos, partidos e/ou ideologias políticas. Geralmente engajam em comportamento inautêntico.
Deep Fake: Conteúdo audiovisual criado por manipulação de imagens que simulam com extremo realismo uma situação ou fala que não aconteceu 
Desinformação: Informações que são deliberadamente falsas ou enganosas, muitas vezes espalhadas para ganho ou lucro político, ou para desacreditar um indivíduo, grupo, movimento ou partido político alvo.
Desmonetização: Remoção da capacidade de uma conta, canal ou indivíduo gerar receita com seu conteúdo em uma plataforma.
Desplataformização (De-Platforming): Remover uma conta de uma rede social por ter ferido as regras de uso ou termos de serviço 
Engajamento:  Quantidades de respostas e interações em um comentário ou conta, tais como likes, emojis, retweets etc. Costumam impulsionar conteúdos através dos algoritmos das redes.   
Fake News: Conteúdo falso. Pode ser criado para desinformar ou sem intenção de causar mal.
Impulsionamento:  Pagamento para que mensagens em redes sociais tenham maior alcance.
Influenciador: Um indivíduo que possui uma audiência considerável em seus canais da internet e pode influenciar o comportamento de seus seguidores. 
Moderação de conteúdo: “Limpeza” de uma rede que pode envolver sinalizar conteúdo falso, reduzir alcance, editar ou excluir postagens.
Monetização: Ferramenta disponibilizada pelas plataformas de redes sociais como Google, Facebook, Twitter, Instagram e Youtube para que os criadores de conteúdo ganhem dinheiro com o conteúdo que produzem.   
Plataformas: Empresas que criaram e mantêm redes sociais tais como Google, Facebook/Meta, Instagram, Whatsapp, Telegram, TikTok e Youtube.  
Redes sociais: Sites onde quem cria o conteúdo são os próprios usuários e há uma dinâmica de interação entre eles, através da interação perfil-perfil, por meio de grupos, páginas ou outras ferramentas que agrupam conteúdos. Costumam ser mediadas por algoritmos que alteram a distribuição do conteúdo.
Robôs: os “bots” geralmente se referem a contas de mídia social que são automatizadas, às vezes implantadas para fins enganosos, como amplificar artificialmente uma mensagem, manipular um algoritmo ou inflar o engajamento de uma conta. 
Verificação: Uma checagem destinada especificamente a conteúdos de desinformação, ou seja, criados para manipular o debate público.
Viralização: conteúdo na internet que é amplamente compartilhado e recebe grande interação de maneira orgânica, mas que às vezes pode receber auxílio de bots ou contas inautênticas para iniciar o compartilhamento.
Publicações seguem no ar apesar de irem contra políticas de moderação da Meta e foram vistas mais de 414 mil vezes
“Nós não vamos deixar um ladrão assumir nossa nação, e as Forças Armadas têm a obrigação de nos defender. Nós não estamos pedindo pra eles, nós estamos exigindo deles que nos dêem amparo”, escreveu Sergio Bolsi na página Desperta Brasil Sergio Bolsi. O post foi veiculado por uma semana, entre 15 e 22 de novembro, no Facebook, Instagram e Messenger e foi visto entre 40 mil e 45 mil vezes. Impulsionado, custou menos de R$ 100 para o anunciante. 
Assim como ele, a Agência Pública identificou ao menos outros 65 anúncios publicados no Facebook e Instagram por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que não aceitam a derrota do líder nas urnas. Os textos divulgam protestos antidemocráticos e defendem um golpe para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e já foram vistos no mínimo 414 mil vezes desde o início de novembro. Anúncios com teor golpista e que propagam desinformação sobre as eleições não são permitidos pelas políticas da Meta. Ainda assim, apenas 4 das publicações analisadas foram removidas pela plataforma até a publicação desta reportagem.
Os anúncios também foram usados para propagar a narrativa falsa de que as eleições foram fraudadas, como no conteúdo postado pela página Robô Reacionário. Em um vídeo de 4 minutos, a página diz apresentar 10 fatos sobre as eleições, mas se detém em disseminar dúvidas sobre a segurança do sistema eleitoral e apresentar uma série de argumentos já desmentidos por agências de checagem e pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 
O vídeo afirma, por exemplo, que o TSE retirou seu site do ar após receber denúncias de fraude, o que é mentira. Ao final do vídeo, os autores pedem que as pessoas que duvidam do resultado eleitoral se manifestem: “o futuro de sua família e do Brasil dependem disso”. O conteúdo gerou de 100 mil a 125 mil impressões e custou entre R$200 a R$299. 
Ao menos outros 3 dos 20 anúncios veiculados pela Robô Reacionário em novembro chamaram as urnas de “inauditáveis” e atribuíram a eleição de Lula a uma suposta fraude. A página já gastou mais de R$ 1,7 mil com anúncios entre agosto e 20 de novembro, dos quais R$ 666 foram investidos a partir do dia 14 de novembro, véspera do feriado da Proclamação da República e de uma série de atos antidemocráticos que pedem a manutenção de Bolsonaro no poder na frente dos quarteis. 
A segunda semana de novembro respondeu pelo maior número de publicações impulsionadas. Entre os anúncios que buscavam chamar mais gente para os atos de 15 de novembro, um deles divulgava um ônibus gratuito entre a capital paulista e Brasília (DF): “olá amigos patriotas de #saopaulo vamos marchar rumo a #brasilia defender nosso país”. A passagem gratuita era só de ida, sem data de retorno. O conteúdo foi postado pela página Nahand, que diz ser de uma loja online, mas não tem seguidores, curtidas e nem apresenta produtos a serem vendidos. Os únicos dois posts feitos pela página são sobre política e pró-Bolsonaro.
“SE QUALQUER AGENTE DE GUARDA MUNICIPAL, POLICIAIS ESTADUAIS OU FEDERAIS, TENTAREM RETIRAR AS PESSOAS DE FRENTE DOS QUARTÉIS, PROCUREM O OFICIAL DE DIA NO QUARTEL IMEDIATAMENTE! OS 3 COMANDANTES DAS FORÇAS JÁ EMITIRAM NOTA PERMITINDO AS MANIFESTAÇÕES”, orientou outra mensagem, em caixa alta no original. O anúncio foi veiculado no Instagram entre 13 e 14 de novembro e foi visto entre mil e 2 mil vezes. 
Ao menos outros 4 conteúdos impulsionados citaram uma nota emitida pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica como prova de que os manifestantes teriam o apoio das Forças Armadas na empreitada golpista. A nota defendeu a existência das manifestações, mas, como mostra reportagem da Pública, a Alta Cúpula do Exército não pretende colocar tanques na rua.
Diversas publicações pediram ainda que as pessoas compartilhassem as postagens sobre as manifestações —  um dos anúncios chegou a defender que mais gente pagasse por alcance na Meta, ou seja, anunciasse na plataforma.
“PARTICIPE E AJUDE OS ACAMPAMENTOS NOS QUARTÉIS, OS CAMINHONEIROS, E FECHEM AS EMPRESAS, CASO CONTRÁRIO, O PREJUÍZO SERÁ MUITO MAIOR, POR 4 ANOS NO MÍNIMO! COMPARTILHE, ANUNCIE, É BARATO”, dizia o conteúdo, também escrito em caixa alta. O anúncio foi publicado pela página 15 Dias de Saúde, que diz vender suplementos com desconto. Como o conteúdo não foi classificado pelo Facebook como de “temas sociais, eleições ou política”, única categoria que permite transparência com acesso aos dados de impressões e valor gasto, não há como saber quantas pessoas viram a publicação nem quem pagou por ela. 
A maior parte dos anunciantes pagou menos de R$ 100 para levar seu conteúdo a mais gente, mas alguns anunciantes chegaram a desembolsar entre R$ 200 e R$ 300. 
Em retorno à reportagem, a Meta afirmou em nota que “diante da escala de nossos serviços, proibir determinados conteúdos não significa incidência zero” e ressaltou que, do início da campanha eleitoral até o 1º turno, rejeitou “cerca de 135 mil conteúdos impulsionados direcionados ao Brasil de anunciantes que não haviam concluído o processo de autorização ou de posts que não continham o rótulo ‘Pago por’ ou ‘Propaganda Eleitoral’”.
“Proibimos anúncios questionando a legitimidade da eleição brasileira e removemos publicações com pedidos de intervenção militar no país”, acrescentou a empresa. A Meta também afirmou que se preparou “extensivamente para as eleições brasileiras de 2022” e está comprometida em “seguir aprimorando a aplicação” de suas políticas.
“O agro é nosso! O agro é nosso! O agro é nosso!”, gritavam as pessoas em um dos seis vídeos impulsionados por Raijan Mascarello, que se define como um agricultor mato grossense em sua descrição no Instagram. “Não podemos deixar essa quadrilha comunista voltar a roubar nosso Brasil! Vamos lutar até o fim, mas com certeza sairemos vencedores!!!” escreveu ao compartilhar o conteúdo. Ele gastou entre R$200 e R$299 e seu conteúdo foi visto entre 50 mil e 60 mil vezes durante quatro dias de novembro (16, 17, 18 e 19).
O agricultor também veiculou um anúncio com um vídeo de um suposto bloqueio de rodovia na cidade de Sapezal (MT). “Em SAPEZAL-MT tudo parado! O povo de Sapezal está de parabéns pela resiliência que está tendo!!!! Por isso que gosto dessa cidade! Tem alguns Petistas que não valem o que comem, mas a grande maioria são pessoas fantásticas!!”, escreveu. Também não foi possível identificar o alcance do conteúdo impulsionado.
Além dele, uma página em nome de Lucas Vincensi, que tem apenas 1 seguidor, impulsionou no Instagram fotos de um homem segurando uma bandeira do Brasil em uma lavoura e escreveu “quando você não respeita a bandeira do seu país, oque esperar desta nação. S.O.S FFAA” (sic). O termo “SOS FFAA” (que significa socorro Forças Armadas) tem sido um dos motes dos movimentos golpistas e aparece nos anúncios, junto a outros, como “intervenção federal”, que foi citado 11 vezes. Também não foram disponibilizados dados sobre o alcance do conteúdo publicado por Vincensi. 
Edmar Park também se descreve como agropecuarista e pagou entre R$300 a R$399 para a Meta a fim de impulsionar vídeos que mostram os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sendo hostilizados em evento em Nova York. O vídeo foi visto entre 125 mil e 150 mil vezes. A reportagem identificou ao menos outros 5 vídeos impulsionados que mostraram pessoas xingando os ministros em sua passagem pelos Estados Unidos.
Outro conteúdo impulsionados mostra um homem que se identifica como padre dizendo que os ministros do TSE “não vão abrir os computadores para que as Forças Armadas possam ver se tem corrupção”, o que fará com que as eleições sejam anuladas. O anúncio também não foi rotulado como de temas políticos e não é possível acessar dados sobre sua dispersão. Foi publicado pela página Bolsonsristas Patriotas, que não está mais disponível.
Entre os políticos, o nome de maior destaque é o do Tenente Coronel Zucco (Republicanos), deputado federal eleito em 2022 pelo Rio Grande do Sul. Ele fez ao menos três anúncios nos quais defende as manifestações e diz que as Forças Armadas “permanecerão, como sempre fizeram, ao lado do povo brasileiro”. De acordo com o Divulgacand, plataforma de prestação de contas do TSE, Zucco gastou R$167.505,00 com impulsionamento de conteúdo durante a campanha, dos quais R$163.505,00 foram pagos ao Facebook. 
“A mídia tradicional [está] buscando ali influenciar a grande massa contra esses manifestantes, mas o mais interessante: eles estão tentando ignorar o que aconteceu hoje no Brasil, que foi um momento histórico. Milhões de pessoas foram para a frente dos quartéis pedindo intervenção federal”, disse Eder Borges (Progressistas), vereador de Curitiba (PR) e ex-candidato a deputado federal pelo Paraná. “A única coisa certa nesse momento é que esse é o prelúdio de um Brasil em chamas”, finalizou no anúncio.
Borges gastou R$34.000,00 em sua campanha em despesas com impulsionamento de conteúdo no Facebook, mas obteve apenas 9.290 votos nas últimas eleições.
Coordenadora de informação e política no Internet Lab, Ester Borges diz que a Meta legitima o discurso golpista ao aprovar posts pagos com esses conteúdos. “Os anúncios usam todas as ferramentas daquela plataforma para alcançar um número cada vez maior de pessoas, então, de alguma forma, a Meta está legitimando esse discurso ao aprovar um anúncio como esse”, afirma. 
Para João Guilherme Bastos, pesquisador de internet e política do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), esse tipo de anúncio é mais problemático do que um post comum, porque chega em mais pessoas. 
“Eles não simplesmente falam ‘ah, não gostei do resultado da eleição’, eles dizem que existem provas que as urnas foram fraudadas, eles dizem que teve interferência externa. Essa difusão de informações falsas impulsionada pelas ferramentas da plataforma é algo totalmente incompatível com o que em tese seria permitido”, diz. 
O pesquisador aponta ainda que os anúncios nas redes são feitos de modo a atingir justamente as pessoas mais propensas a acreditar naqueles conteúdos. “Mesmo um grupo sendo minoritário, a partir do momento que você consegue atingir ele de modo direcionado e rápido, se você focar nos grupos certos você consegue perturbar um processo eleitoral”, explica. “Não é aceitável que a gente deixe isso passar”. 
A reportagem perguntou à Meta quantas pessoas que falam português estão dedicadas à moderação dos anúncios e quantas horas diárias elas dedicam à função, mas a plataforma não respondeu. Um porta-voz da empresa acrescentou que esses números não refletem a complexidade do trabalho da equipe de moderação, que monitora 2 milhões de publicações por dia mundialmente.
Precisamos te contar uma coisa: Investigar uma reportagem como essa dá muito trabalho e custa caro. Temos que contratar repórteres, editores, fotógrafos, ilustradores, profissionais de redes sociais, advogados… e muitas vezes nossa equipe passa meses mergulhada em uma mesma história para documentar crimes ou abusos de poder e te informar sobre eles. 
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