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Meta impediu candidatos de impulsionar conteúdo sobre maconha – Agência Pública

11 de maio de 2024 | Por Marina Amaral 11 de maio de 2024 | Por Sílvia Marcuzzo 8

Meta impediu candidatos de impulsionar conteúdo sobre maconha – Agência Pública




















































O projeto Sentinela Eleitoral é uma aliança entre jornalistas e acadêmicos para investigar as campanhas de manipulação do debate público e a desinformação online nas eleições de 2022, com especial foco naquelas que ameaçam a estabilidade democrática.
Em parceria com o pesquisador David Nemer e o Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, o projeto vai trazer ao público informações exclusivas e análises que geralmente ficam restritas à academia,  lançando luz sobre narrativas inautênticas, seus atores e seu financiamento. Entenda mais sobre os conceitos e metodologias usadas pela equipe aqui. E leia o glossário de termos relevantes aqui.
Além dos conteúdos publicados neste site – e que podem ser reproduzidos livremente seguindo as regras de republicação da Agência Pública – o projeto trará toda segunda-feira uma newsletter exclusiva que vai analisar eventos e estratégias para enfraquecer a democracia no Brasil e no Mundo. Assine aqui a newsletter. 
Coordenação e edição: 
Natalia Viana
Idealização e curadoria acadêmica: 
David Nemer
Edição: 
Bruno Fonseca   
Mariama Correia
Paula Bianchi 
Reportagem: 
Laura Scofield
Matheus Santino
Alice Maciel 
Nathallia Fonseca
Parceiros Acadêmicos: 
Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard
Media Lab da Universidade da Virgínia
Parceiros de Tecnologia:
Trint e 7c0
Veículos parceiros:

Existem sete tipos de “fake news” rodando nas redes sociais. Alguns deles são meros enganos, ou informações retiradas do contexto. Esses não são nosso foco. 
Para o Sentinela, interessam aqueles conteúdos fabricados ou disseminados deliberadamente com a intenção de manipular o debate público, de maneira coordenada e não orgânica. Essas campanhas são realizadas por agentes que podem receber recompensas financeiras ou outros tipos de recompensa, como visibilidade, likes ou possibilidade de monetização dos seus canais. Chamamos esse tipo de fake news de “desinformação”. 
Campanhas de desinformação seguem um ciclo de vida. Segundo a equipe do Technology and Social Change project (TaSC) da Universidade de Harvard, são cinco estágios: o planejamento ou origem, que inclui a criação de narrativas, imagens, vídeos e outros materiais para serem divulgados online; a disseminação da campanha em variadas plataformas; as respostas e o engajamento de influenciadores, ativistas, políticos e jornalistas;  a mitigação, que pode ser feita pelas plataformas de redes sociais, veículos de comunicação ou organizações da sociedade civil ou órgãos públicos; e as adaptações dos atores desinformantes às respostas e à mitigação.    
Existem vários métodos para documentar e analisar essas campanhas de manipulação: estudos de caso, pesquisas qualitativa e quantitativas, mapeamento de redes, rastreamento de processos e estudos etnográficos. Outras fontes incluem relatórios sobre ameaças, bibliotecas de anúncios e outros documentos comerciais, pesquisas acadêmicas, declarações públicas de atores relevantes, prints de mídias e textos. 
Como metodologia de apuração, mantemos uma base de dados atualizada que monitora  250 grupos em aplicativos de mensagem e centenas de perfis em diferentes redes sociais. Nossa equipe faz o acompanhamento diário das interações nas redes sociais e parte desses dados para fazer levantamentos quantitativos e qualitativos sobre a produção de narrativas.
Muitas vezes, uma “onda” de desinformação é apenas o começo para uma investigação jornalística. A partir daí, buscamos identificar atores envolvidos, repercussões da desinformação no mundo offline, como em atos governamentais, por exemplo, esquemas de financiamento ou apoio que envolvam empresas ou grupos de lobby, além de documentos, entrevistas e outros tipos de registros que ajudem a entender como funciona cada campanha de desinformação. Também utilizamos nas investigações dados da circulação das mensagens nas redes, extraídos a partir de raspagem de dados de hashtags, de perfis e de termos para respaldar as reportagens.
Descrever a circulação de conteúdos desinformativos, dos atores envolvidos e das suas estratégias nas plataformas é uma ferramenta metodológica já utilizada em pesquisas de redes digitais, e que será utilizada neste projeto. Teorias como a Ator-Rede e técnicas como a análise de controvérsias são referências para entender, dentre outros aspectos, como esse conjunto de perfis, plataformas, algoritmos e contextos sociais e políticos transformam e constroem fatos sociais e disputas de significado.
Nos textos escritos no Sentinela, encorajamos os nossos autores a buscarem referências e estudos publicados nos assuntos para auxiliar no entendimento dos seus achados e dados.
Campanhas de desinformação atendem à estratégia definida pela equipe do TASC como “turvar as águas” (‘muddy the waters’, em inglês). 
O termo se refere à criação de um ambiente informático confuso e desorientador, no qual é difícil para um cidadão comum separar o que é verdade do que é mentira. Isso acontece quando há uma proliferação de fontes desinformacionais competindo com fontes que relatam fatos, como jornais, sites independentes, a comunidade acadêmica.   
A tática é mais relevante em momentos de instabilidade política fabricada para ganho pessoal. Um dos maiores exemplos de ‘turvar as águas’ na política recente foi a campanha de Donald Trump para reverter a sua derrota nas eleições americanas de 2020 – alegando ‘fraude’ – o que levou à invasão do Capitólio por uma turba armada em 6 de janeiro de 2021. 
É assim que uma campanha de desinformação pode levar a ações concretas, na vida real. Nosso objetivo com o Sentinela é investigar, documentar e denunciar estratégias que pretendem desestabilizar as eleições brasileiras.  
Glossário Sentinela
Assédio online: Campanha orquestrada de ataques verbais violentos, ameaças, assédio sexual  ou destruição de reputação de um ou mais alvos. 
Caixa Dois: Pagamento de custos de uma campanha política online feitos “por debaixo do pano”, não registrada junto à Justiça Eleitoral; pode ser feito via oferta de serviços ou bens e não apenas pagamento em dinheiro.
Checagem de fatos (fact-checking): Apuração jornalística que confronta narrativas, memes ou declarações com dados, pesquisas e registros para verificar se uma afirmação, história, meme ou vídeo é verdadeira.
Comportamento inautêntico:  comportamento proveniente de contas que tentam fazer seus conteúdos parecerem mais populares ou ativos do que são. Geralmente agem de forma coordenada, para tentar influenciar artificialmente as conversas por meio do uso de várias contas, contas falsas, automação e/ou scripts.
Conta automatizada: O mesmo que ‘robô’.
Conta hiper-partidária: contas dedicadas a promover políticos, partidos e/ou ideologias políticas. Geralmente engajam em comportamento inautêntico.
Deep Fake: Conteúdo audiovisual criado por manipulação de imagens que simulam com extremo realismo uma situação ou fala que não aconteceu 
Desinformação: Informações que são deliberadamente falsas ou enganosas, muitas vezes espalhadas para ganho ou lucro político, ou para desacreditar um indivíduo, grupo, movimento ou partido político alvo.
Desmonetização: Remoção da capacidade de uma conta, canal ou indivíduo gerar receita com seu conteúdo em uma plataforma.
Desplataformização (De-Platforming): Remover uma conta de uma rede social por ter ferido as regras de uso ou termos de serviço 
Engajamento:  Quantidades de respostas e interações em um comentário ou conta, tais como likes, emojis, retweets etc. Costumam impulsionar conteúdos através dos algoritmos das redes.   
Fake News: Conteúdo falso. Pode ser criado para desinformar ou sem intenção de causar mal.
Impulsionamento:  Pagamento para que mensagens em redes sociais tenham maior alcance.
Influenciador: Um indivíduo que possui uma audiência considerável em seus canais da internet e pode influenciar o comportamento de seus seguidores. 
Moderação de conteúdo: “Limpeza” de uma rede que pode envolver sinalizar conteúdo falso, reduzir alcance, editar ou excluir postagens.
Monetização: Ferramenta disponibilizada pelas plataformas de redes sociais como Google, Facebook, Twitter, Instagram e Youtube para que os criadores de conteúdo ganhem dinheiro com o conteúdo que produzem.   
Plataformas: Empresas que criaram e mantêm redes sociais tais como Google, Facebook/Meta, Instagram, Whatsapp, Telegram, TikTok e Youtube.  
Redes sociais: Sites onde quem cria o conteúdo são os próprios usuários e há uma dinâmica de interação entre eles, através da interação perfil-perfil, por meio de grupos, páginas ou outras ferramentas que agrupam conteúdos. Costumam ser mediadas por algoritmos que alteram a distribuição do conteúdo.
Robôs: os “bots” geralmente se referem a contas de mídia social que são automatizadas, às vezes implantadas para fins enganosos, como amplificar artificialmente uma mensagem, manipular um algoritmo ou inflar o engajamento de uma conta. 
Verificação: Uma checagem destinada especificamente a conteúdos de desinformação, ou seja, criados para manipular o debate público.
Viralização: conteúdo na internet que é amplamente compartilhado e recebe grande interação de maneira orgânica, mas que às vezes pode receber auxílio de bots ou contas inautênticas para iniciar o compartilhamento.
Contrariando decisões do STF, Facebook e Instagram restringiram propaganda de candidatos liberacionistas nas eleições
“Você que fuma maconha e sabe que não é nada disso, você que usa óleo de maconha como remédio para seu filho, para sua mãe, para sua família. Você que quer vender legalmente maconha no seu país, aperta 5042 e não esquece, aperta o verde depois.” Este é o texto do vídeo da campanha do então candidato a deputado federal, o advogado André Barros (PSOL-RJ). A formalidade do terno e cabelo grisalho contrastam com o sotaque carregado do carioca, que está no meio de uma pequena estufa de maconha. No canto superior direito, o símbolo da campanha: uma folha de maconha dentro de um sol. O vídeo teve, organicamente, mais de 50 mil visualizações no Instagram e 80 mil no Facebook. Porém, quando o candidato tentou impulsioná-lo em plena campanha eleitoral, o anúncio foi recusado pela Meta.
É um direito de todos os candidatos que lhe foi negado, argumenta o advogado. “Mesmo com o selo da Justiça Eleitoral eu não pude realizar o impulsionamento pago”, lamenta. Devido a regras da plataforma, o mesmo problema aconteceu com outros candidatos que defendem a legalização da maconha, segundo apurou a Agência Pública. Muitos dizem que foram prejudicados e que a Meta não está seguindo a lei eleitoral.
Os vídeos da campanha de André Barros buscavam debater os casos em que a maconha já é legal no Brasil. Em 22 deles, o cenário escolhido era uma plantação de um usuário medicinal, um engenheiro aposentado, que tem permissão para cultivar flores para tratar de sequelas de uma pólio na infância. Os três primeiros tiveram impulsionamento negado, e os seguintes nem tinham a opção para impulsionamento. Outros vídeos foram gravados na maior associação de usuários medicinais do Estado do Rio de Janeiro, a APEPI, mostrando as instalações da sede campestre onde a cannabis é cultivada e transformada em óleo. Também tiveram seu impulsionamento negado. Ao total foram onze tentativas frustradas de impulsionamento.
Segundo a Lei Eleitoral, todo candidato, coligação ou partido político tem direito a realizar o impulsionamento pago de suas postagens nas redes sociais – é essa a única forma de propaganda eleitoral paga permitida na internet. É preciso criar uma conta de anúncio específica no CNPJ da campanha e os recursos gastos são creditados através de boletos que entram na prestação de contas. Além disso, a rede social inclui na postagem um selo indicando que se trata de uma campanha eleitoral.
“Repare que a lei não fala em análise prévia de conteúdo. Por isso, entendo como ilegal a análise feita pelo Facebook, Instagram e qualquer outra rede social que oferece o serviço de impulsionamento”, explica o advogado especialista em direito eleitoral Paulo Henrique Fagundes.
O impulsionamento é semelhante a qualquer anúncio nas redes sociais: é possível definir palavras-chaves e perfis e geolocalização de seu público-alvo. Com o impulsionamento pago, é possível ter a certeza de que seu conteúdo vai circular no Estado em que o candidato está concorrendo. 
André Barros, que também é advogado, aponta para uma contradição da empresa: “ao mesmo tempo está circulando no Instagram e Facebook um anúncio pago de um banco, com uma folha de maconha, propondo para as pessoas investirem R$100 na indústria da cannabis”.
O anúncio citado é do banco BTG-Pactual e trata de uma carteira de investimento gerida pela Vitreo, uma corretora que pertence ao grupo. Lançada em 2020 a empresa foi a primeira no Brasil a oferecer aos seus clientes a oportunidade de investir no mercado internacional de cannabis ações de empresas envolvidas na produção, estocagem e distribuição em países onde ela é legalizada. Esse produto financeiro foi copiado pela XP investimentos e hoje é disponível através da plataforma do BTG-Pactual.
 “O investimento tratado no anúncio, nem sequer é na indústria brasileira, onde é proibido produzir maconha, é na indústria dos EUA e Canadá”, revolta-se Barros. “Estamos vendo o ouro verde passar no Brasil”, diz referindo-se ao bilionário mercado internacional de maconha legal. Segundo dados publicados no site do BTG, em 2020 a indústria canábica atingiu a marca de 21 bilhões de dólares, um crescimento de 48% na comparação com 2019. Atualmente só doze remédios produzidos a partir de matéria prima importada têm a venda permitida no Brasil, mas se o cultivo fosse legalizado, poderia girar em torno de R$ 12 bilhões ao ano, segundo a consultoria Kaya Mind.
No caso da BTG-Pactual, a campanha está no ar no Facebook e Instagram desde pelo menos o começo de outubro. Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação da META respondeu: “Não temos um retorno sobre.” Não houve mais resposta após esse contato. 
André Barros, conquistou 9.785 votos, mas não se elegeu deputado. Ele ficou conhecido como o “advogado da Marcha da Maconha”, após acudir militantes do movimento que foram detidos por distribuir panfletos que chamavam para o evento, cujo foco é o fim da proibição da erva. Nesse mesmo ano, as Marchas da Maconha de nove cidades foram impedidas de serem realizadas a pedido de Ministérios Públicos estaduais. A partir dos anos seguintes, André passou a pedir habeas corpus preventivos para a realização das marchas – permitindo assim que elas aconteçam livremente. Ele foi ainda um dos autores de duas ações julgadas em 2011 pelo STF, que garantiram por unanimidade não só a legitimidade da Marcha da Maconha, mas também a da discussão sobre o uso e regulamentação da maconha no Brasil.  
“Não haverá antijuridicidade ou ilicitude na conduta daquele que, por exemplo, propugna pela descriminalização do aborto, do porte de droga para uso próprio e da eutanásia. Isto porque, defender a descriminalização de certas condutas previstas em lei como crime, não é fazer apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Igualmente, não configura o crime a conduta daquele que usa camiseta com a estampa da folha da maconha, por ser inócua a caracterizar o crime e por estar abrangida na garantia constitucional da liberdade de manifestação do pensamento”, defendeu o relator, Celso de Mello, na ADPF187 seguido por unanimidade por seus colegas.
Nas redes sociais, no entanto, ainda reina o tabu. A Meta, empresa que detém o Facebook e o Instagram, impõe um regulamento muito estrito sobre “substâncias perigosas” em suas plataformas de redes sociais. A respeito do impulsionamento pago, uma cláusula diz que “os anúncios não devem promover a venda ou o uso de drogas recreativas ou ilícitas, nem de outras substâncias, produtos ou suplementos que podem apresentar algum risco à saúde, conforme definido pela Meta a critério exclusivo dela.” 
A norma contrasta não só com a decisão de 2011 do STF, mas com o que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2020, a Comissão de Drogas Narcóticas da Organização da ONU reclassificou a cannabis do patamar de “substância perigosa sem potencial terapêutico”, para “substância menos perigosa com potencial terapêutico”. A mudança ocorreu atendendo ao pedido da OMS.
E os vídeos da campanha de André Barros são apenas um dos casos apurados pela reportagem. 
O ex-candidato a deputado federal Dario de Moura (PSOL-MG) usou o TikTok e o Instagram para viralizar sua campanha. Com um jingle feito sobre a melodia do “Rap da Felicidade” (“Eu só quero ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”) e uma dancinha feita sob medida para a geração Tik Tok, Dario explodiu. Foram 2,5 milhões de visualizações na plataforma chinesa e outras 600 mil no Instagram
Porém, quando o vídeo já acumulava 500 mil visualizações, a conta de Dario foi derrubada. O advogado da campanha rapidamente notificou a empresa e o TSE. Poucas horas depois, o vídeo estava de volta sem nenhuma alteração. 
“O impulsionamento é importante”, conta Dario. “Eu vou falar com um publico muito certeiro, e nisso a gente acertou bastante, fomos no publico de funk, grau, passinho, galera que tem potencial de viralizar”, disse Pedro Castro, que cuidou da comunicação da campanha de Dario.
O vídeo fez aumentar o interesse sobre a Bancada da Cannabis, uma iniciativa da candidata a deputada federal Maisa Diniz (Rede-SP), reunindo candidaturas canábicas de todo Brasil. Mas ate mesmo Maisa teve impulsionamento negado numa foto publicada no seu Instagram em que ela aparecia carregando um cartaz de papel pardo escrito “Cannabis É Planta”. 
“Era um conteúdo que não fazia apologia, não gerava nenhum insulto, apenas trazia uma informação muito obvia, como dizer ‘a terra é redonda’”, conta Maisa. “O período de campanha é muito curto, tudo precisa ser feito muito rápido, então o candidato e os estrategistas têm que testar o tempo todo a narrativa, as abordagens. A partir do momento que a gente passou a ter impulsionamentos negados, a gente deixou de ter uma ferramenta que disponível para todos os candidatos”, explica. 
Para Maisa, isso “foi muito prejudicial para nós”. 
“Tenho certeza que perdemos votos pois o conteúdo super qualificado e informativo que estávamos fazendo não pôde ser visto por mais pessoas”, completou.
Pelo menos mais um candidato da Bancada da Cannabis, o defensor público Mateus Moro (PT-SP), também relatou impulsionamento negado numa publicação no Instagram de uma vinheta que trazia a famosa folha serrilhada.
André Barros teve onze tentativas de impulsionamento de postagens negadas e uma vez que já havia alocado recursos da campanha no impulsionamento foi preciso regravar os anúncios, desta vez, sem as plantas e com uma identidade visual nova, pois havia o desenho de uma folha de maconha ao lado do seu nome e número. Eu mesmo, autor dessa reportagem, colaborei na produção desses vídeos – que finalmente conseguiram ser impulsionados.
Um dos anúncios rejeitados para impulsionamento pela META foi veiculado no horário eleitoral gratuito da TV sem nenhum tipo de censura. “Pelo óleo da maconha no SUS, aperta 5042, e o verde depois”, diz Barros, em apenas 7 segundos.
“É um absurdo a META censurar um anúncio que passou no horário nobre em todas as emissoras de TV do Estado”, reclama o autor, que recorreu à Justiça eleitoral, mas teve seu processo negado pelo TRE-RJ, que negou ter competência para julgar sobre “relação de cunho, evidentemente, contratual, atinente às regras e mecanismos de impulsionamento próprios da política de publicidade de cada provedor de aplicações de internet.”
O advogado Paulo Henrique Fagundes, que defendeu Barros, ficou surpreso pela decisão. “Essas empresas se submetem à Justiça Eleitoral na hora de cobrar pelos serviços prestados, mas, na medida em que se negam a fazer o impulsionamento de um conteúdo porque ele desagrada a política comercial dela, ela está de uma certa forma influenciando no processo eleitoral”, diz o advogado. “Não cabe a rede social fazer censura de campanha, isso é função da Justiça Eleitoral”. 
A reportagem detectou outros anúncios com o tema de maconha que conseguem circular livremente nas redes da Meta. Por exemplo, o perfil da Hemp Fair Brasil, evento que acontecerá em abril do ano que vem para reunir empresários e startups do meio canábico, teve um anúncio veiculado ao longo de outubro no stories e feed do instagram. Para burlar os algoritmos, o anúncio usa números em vez de letras. “Revolução genética e c4nn4bis. Da semente ao funcionamento do sistema Endocanabioide. Das tecnologias de DNA aos testes de canabinóides para humanos.” Abaixo, um link para inscrever-se no curso presencial que será realizado no dia 25 de novembro no Rio de Janeiro.
O co-criador da Hemp Fair Brasil Thiago Ermano explica que é preciso usar alguns ”jeitinhos” para conseguir impulsionamento. “Os canais de relacionamentos com os clientes e usuários das redes sociais citadas ainda são inadequados para tratar das demandas imediatas dos mercados em regulação da cannabis. Há desafios que dependem de diálogos entre os técnicos do próximo governo com as donas das redes sociais, com as empresas e com organizações sociais e científicas em torno da planta.”
Outro anúncio registrado pela reportagem é de um curso de especialização de, “Cannabis medicinal na veterinária”, veiculado no stories do Instagram. Em outubro e novembro a reportagem também localizou um anúncio relacionado a participação de uma empresa brasileira no evento Expo Cannabis Uruguay e de um curso de pós-graduação em Cannabis Medicinal. Todos impulsionados.
Sócio de Ermano na Hemp Fair, Marco Antonio Carboni, é presidente do Instituto CuraPro: Acolhe Vidas, que dá assistência a pessoas que precisam iniciar tratamento com cannabis. “No Instagram e no Facebook, nossos posts já foram retirados do ar. Publicações que continham informações sobre mutirão assistencial médico de atendimento. No Tiktok e no Twitter, tivemos a exclusão de publicações. Já no Youtube, tivemos todos os vídeos bloqueados e a conta suspensa”, diz. 
Para ele, a cannabis não é um assunto que deve ser visto sob a ótica da política de drogas e, sim, sob a ótica da política de saúde e da política econômica. “É fundamental que este tema seja discutido com a seriedade e o respeito que merece”. 
Infelizmente, as redes sociais, que funcionam como uma praça pública de ideias, impedem muitas vezes que isso aconteça.   
Para burlar os algoritmos, vale o peso da lei.
Foi o que descobriu a jornalista e influencer Gabii Weed, 26 anos, moradora da comunidade do Rato, no Jacaré, bairro na zona norte do Rio de Janeiro. Gabii mantém no Instagram desde 2019 o perfil @gabiiweed, hoje com 12,7 mil seguidores.
Nele publica o que chama de “jornalismo canábico de baixa-renda”, informações de bastidores sobre coletivos, grupos, empresários e influenciadores do meio canábico, além da defesa ferrenha ao uso da maconha prensada e sobretudo das pessoas que a usam. “O Prensado é só mais um produto importado pela população pobre do Brasil diretamente do Paraguai. Uma luta democrática pela legalização inclui todos os corpos”, explica Gabii. 
Gabii já estava ganhando dinheiro por meio de sua conta no Instagram através da monetização, quando ela foi desativada pela quarta vez, em setembro de 2021. Na época, ela alcançava 62 mil pessoas. 
Foi quando a influencer ingressou com uma ação através do Juizado Especial Cível para provar que seu conteúdo não infringiu nenhum termo de uso da plataforma. 
“Pedi a condenação da META, que na época ainda era Facebook, por censura, e a reativação da conta de maneira que não pudesse ser mais desativada”, relembra Gabii, que escreveu ela mesma a petição. “Ingressei com a ação sem advogado e com a petição inicial escrita à mão”. 
Na contestação, o advogado da empresa alegou que o aplicativo segue parâmetros globais para remover os conteúdos e que não cometeu censura. 
Em 30 de janeiro de 2022, a plataforma foi condenada a reativar a conta em até 48 horas, com multa diária de 100 reais se descumprisse a ordem, além do pagamento de 1.000 reais de indenização por danos morais. A defesa da Meta recorreu, mas os desembargadores, em decisão unânime, mantiveram a sentença. 
“Mesmo com essa decisão a plataforma ainda desativa minha conta, mas agora entro em contato e informo que estão desrespeitando uma decisão judicial. Em 24 horas, a conta está ativa novamente”, diz a influenciadora. “Me orgulho muito de ter a primeira conta dedicada ao ativismo da maconha mantida nas redes sociais pela Justiça brasileira.”
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